quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

GAFANHA: Coisas de antigamente - 3

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As Malhadas
Depois das sementeiras e regas, com sacha pelo meio, vinham as esperadas colheitas, nem sempre abundantes. Tudo feito a poder de braço e com a ajuda de alfaias simples. A foicinha, nas mãos hábeis dos nossos avós, fazia prodígios e campos enormes eram ceifados com rapidez. O transporte em carros de vacas ou bois era feito com alegria, que o osso mais duro já estava roído. Estamos a falar de cereais, está bem de ver. As batatas, arrancadas muitas vezes à mão, com as facilidades oferecidas pela areia, eram de seguida levadas para o celeiro à espera da melhor hora para a venda. Voltemos aos cereais e às malhadas que só mudaram de técnica em 1935, altura em que começaram a ser utilizadas as malhadeiras motorizadas. Até aí, a força humana e animal é que imperou. Diz o Padre Resende e disso fomos testemunha e interveniente: “Estendido na eira o cereal a debulhar, defrontavam-se duas alas de malhadores que começavam por dar pancadas rítmicas e cadenciadas no mesmo ponto, até que saíssem da espiga o grão e a pragana; deixando de sair o grão, as alas avançavam em eitos sucessivos até percorrer toda a malhada. Aquelas pancadas rítmicas obedeciam geralmente ao comando de um dos homens das duas filas, e eram executadas a compasso de dois tempos irregulares, isto é, quando a primeira fila de malhadores dava a pancada com o malho baixo, breve e fraca, a outra actuava do mesmo modo. Quando essa primeira fila dava o pancadão, de malho alto e repuxado, demorado e fortemente, assim também o executava a segunda fila. Percorrida pela primeira vez toda a malhada com pancadas e pancadões em série de eitos, ao que chamavam quebrar a pragana, retiravam a palha solta, levadiça, e percorriam novamente a malhada a propósito, diziam. O último eito da série de percorridas da malhada que eram necessárias para completa saída do grão era constituído somente por pancadões, executados à voz de quem dirige a malhada. Este, ao começar o último eito gritava: mat’ ò rato. E todos, de músculos tensos, corpo estendido e malho repuxado, percorriam a eito toda a eira, do princípio ao fim, repetindo a frase e em grande grita”. Mas se a malhada com o malho, como é óbvio, era a mais usual, não podemos esquecer outros processos empregados para separar o grão da espiga. Um deles, por exemplo, também teve a sua época. Referimo-nos à utilização de animais (vacas, sobretudo). Caminhando em círculo sobre o cereal estendido na eira, lá iam separando o grão da espiga com uma paciência inaudita, sob o olhar atento das pessoas que, de penico ou balde na mão, impediam que os excrementos e urina caíssem sobre os cereais.
Fernando Martins
NOTA: A foto não é das Gafanhas. Não há por aí quem me ofereça uma?
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