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FORTE DA BARRA DE AVEIRO


Há obras prometidas...



UM POUCO DE HISTÓRIA 

Temos da convir que um qualquer motivo de interesse turístico ganha ou perde conforme o concelho a que pertence ou não pertence. Assim acontece com o Forte da Barra de Aveiro, localizado na ilha da Mó do Meio, Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, considerado imóvel de interesse público pelo Decreto - Lei n.º 735/74 de 21 de Dezembro, e muito esquecido dos roteiros postos à disposição de quantos visitam esta encantadora região.
Integrado num outro enquadramento turístico, talvez fosse mais lembrado pelos que têm responsabilidades no sector. É certo que o estado de algum abandono a que foi votado muito tem contribuído para que dali se desviem os mais sensíveis a tudo quanto de algum modo faça recordar o nosso passado, muito embora se reconheça que o Forte da Barra não terá sido grande baluarte de defesa da foz do Vouga e desta zona ribeirinha.
Este antigo forte, denominado Forte Novo ou Castelo da Gafanha, é um imóvel do século XVII, embora haja quem o considere anterior. Trata-se de “uma obra do tipo abaluartado, restando, actualmente, uma pequena cortina de dois meios baluartes. Depois que deixou de ser necessária a defesa do Rio Vouga, foram edificadas construções sobre a cortina e o meio baluarte norte. Também o espaço existente entre os dois meios baluartes foi afectado. No baluarte sul foi erguida uma torre de sinalização mas, nesse lado, ainda é visível parte da escarpa, cordão e três canhoeiras cortadas no parapeito. Os dois meios baluartes remontam, assim parece, a épocas diferentes. O flanco norte aparenta ser oblíquo à cortina, enquanto o do sul é perpendicular. Também as linhas rasantes não são do mesmo ângulo”. Esta é a descrição do Inventário Artístico de Portugal de Nogueira Gonçalves.
O Guia de Portugal da Fundação Calouste Gulbenkian acrescenta que a “torre de sinalização que aqui se ergue foi construída em 1840, sob a direcção do Eng. Oliveira Antunes”, e o Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses do General João de Almeida diz que “este forte teria sido construído durante a Guerra da Restauração e reconstruído nos anos de 1801 a 1802, em obediência ao plano de defesa do reino, elaborado nos fins do século XVIII” e que, em fins do século passado, perdida a sua eficiência militar, foi construída, contígua à fortaleza, da banda do sul, uma bateria rasa, de tiro de sinal para avisar a defesa da entrada da barra”.
A descrição do Forte da Barra de Aveiro sugere‑nos uma referência a um outro forte, o Forte Velho, que existiu na Vagueira e bem assinalado em diversas cartas, possivelmente construído com finalidades semelhantes pela mesma altura e há muito destruído. Aliás, sabe-se que a pedra dos seus muros foi aproveitada para a construção de parte da muralha da barra, quando ela ali se localizou. E é curioso que muitos se interrogam sobre qual deles é, afinal, o mais antigo. A este propósito, consultámos os escritos do superintendente das Obras da Barra, Francisco António Gravito, que teceu as seguintes e curiosas considerações em 1781. “O forte conhecido com o nome de Velho o não merece senão pela sua ruína porque a inscripção de nua pedra que se acha entre as ruínas o declara feito em anno de 1643 pouco tempo para merecer aquele nome se não fosse a ruína como dizemos. O conhecido com o nome de Novo, o vemos quase inteiro, sem memória do seu princípio com os seus materiais, indicando sua antiguidade maior, que estes 138 anos que tem o chamado Velho. Se fosse mais moderno que este apareceria alguma memória da sua certa factura. Nestes termos parece, sem hesitação devemos ter este chamado Novo, pelo mais antigo e imemorial, e que o nome de Novo o conserve pela falta da sua ruína”. Poder-se-á concluir que o chamado Forte Novo afinal é o mais antigo da foz do Vouga e das margens da Ria de Aveiro? Até prova em contrário pensamos que sim. E neste caso, urge que lhe seja reconhecido o direito de figurar nos guias e roteiros turísticos, obviamente depois das obras de restauro necessárias, não só no núcleo do Forte, mas ainda na área envolvente.
Têm-me dito que tudo isso está em maré de estudo, para se fazer obra de jeito, que aquele espaço bem merece. Apenas desejo que tudo façam para que a minha geração possa apreciar o que daí sair, apresentando-se, então, o Forte, com toda a dignidade a que tem direito.

Fernando Martins

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