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Lembranças da Obra da Providência

Bebé nasce no meu automóvel
Era certo que muitas raparigas entravam na Obra da Providência já grávidas, algumas sem saberem, com rigor, o tempo de gravidez. Num princípio de tarde, uma jovem alerta para a hora do parto. As dores começam a sentir-se e a angústia, natural, manifesta-se. Era necessário conduzi-la ao hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, como era habitual em casos semelhantes.
Amigo e colaborador da Obra, costumava ajudar nestas e noutras circunstâncias. A futura mãe entra no meu automóvel, com sinais evidentes de que a hora se aproximava. Deitada no banco de trás, começou a queixar-se. Sentada ao meu lado, a dona Maria da Luz começou a animá-la, dizendo-lhe que faltava pouco para chegar ao hospital.
A meio do caminho, junto à antiga fábrica da bolacha, na Gafanha d’Aquém, a jovem começa a pedir água, respondendo-lhe a directora da Obra que não se podia parar e que era preciso chegar depressa a Ílhavo. De repente, diz a rapariga, com ar de algum alívio: “Já botei fora…”. A este desabafo, e convencido de que ela tinha vomitado, disse-lhe: “Vomite à vontade…”
Dona Maria da Luz teve um pressentimento e olha para trás. Dá um salto e recebe a criança nos braços. Depois foi uma corrida até ao hospital, a buzinar, nervosamente, para que me deixassem passar. Quando chegámos ao átrio da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, já duas funcionárias, alertadas pelo barulho da buzina, se apresentavam de maca preparada para receber a mãe e o bebé. Eu respirei fundo…

Fernando Martins


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