Avançar para o conteúdo principal

Origem do vocábulo GAFANHA

Resumo elaborado por João Gonçalves Gaspar

Ao longo da minha vida abordei vezes sem conta a questão da origem do vocábulo Gafanha. Outros o fizeram do mesmo modo. Todos na ânsia de descobrir qual a sua verdadeira fonte. Uns ficam convencidos duma razão e outros tantos discordam dela. Não vale a pena voltar ao assunto em pormenor, porque estaria a malhar em ferro frio. Aqui deixo, contudo, uma síntese, só para dizer que talvez valha a pena alertar os nossos concidadãos para a decifração do enigma, como passatempo interessante. Só isso.
Por norma descartamos a ideia dos gafos (leprosos), muito embora eles existissem na região de Vagos e Mira. Ainda há poucos anos foram detectados alguns casos. O Hospital Rovisco Pais não foi instalado na Tocha por acaso.
A gadanha, que a MG refere, até estaria em sintonia com o linguajar dos primeiros gafanhões, habituados que estavam a trocar as consoantes. Ainda hoje há quem o faça.
Gafar como imposto e vasilha para transportar sal podia, muito bem, estar na origem da palavra Gafanha. E sal sempre por aqui houve, desde tempos imemoriais. Pinho Leal, no seu dicionário “Portugal antigo e Moderno”, diz, em 1874, que Gafanha podia significar o «lugar onde se paga o gafar» ou «ao qual não se pode ir sem pagar o gafar».
A hipótese de terra gafada, com as suas gretas que as areias, cobertas de lamas, mostravam quando o sol batia, fica à mercê da nossa imaginação.
A gafanha, mulher gafada, que de Aveiro para aqui teria sido desterrada, por ter morfeia, sendo por isso desprezada, também não me repugna.
Gafanha, mato lá para os lados de Sangalhos, há muitas décadas, não deixa de ser um motivo para, tipo charada, nos entretermos.
O gafanho ou gafanhão (saltão), gafanhoto, não me parece lógico. Por que razão nos haviam de ligar àquele insecto? Nem por aqui havia verdura para seu alimento…
Gafanho, nome de tojo, planta rasteira, será mais um caminho para seguir, tal como gatanho (tojo-gatão), sem perder muito tempo.
Gafanha de Galafanha, proveniente esta de Gala (terra alagada) mais Fânia (junco), terá a sua vertente etimológica, ao jeito de quem anda a escolher palavras para chegar à Gafanha de hoje.
Gafano seria, portanto, o homem destas terras, que estava gafado (agarrado, submetido) pelas doenças, pagando a passagem do esteiro. Gafânia ou Gafanha seria portanto a terra dos Gafanos.
Posto isto, é justo afirmar que andei no encalço de alguns estudiosos: Padre Rezende (MG), Joaquim da Silveira (MG), José Leite de Vasconcelos (EP), Gonçalves Viana (EP). João Gonçalves Gaspar (BCGN), Manuel Maria Carlos (JT), Pinho Leal e pesquisas próprias em dicionários e outras leituras avulsas, sem nunca ter encontrado, garantidamente, a origem da palavra Gafanha.

Fernando Martins

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Gafanha em "Recordações de Aveiro"

Foto da Família Ribau, cedida pelo Ângelo Ribau António Gomes da Rocha Madail escreveu na revista “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2 de 1966, um artigo com o título de “Impressões de Aveiro recolhidas em 1871».   Cita, em determinada altura, “Recordações de Aveiro”, de Guerra Leal, que aqui transcrevo: (…)  «No seguimento d'esta estrada ha uma ponte de um só arco, por baixo da qual atravessa o canal que vai a Ilhavo, Vista Alegre, Vagos, etc., e ha tambem a ponte denominada das Cambeias, proxima à Gafanha.  É curiosa e de data pouco remota a historia d'esta povoação original, que occupa uma pequena peninsula. Era tudo areal quando das partes de Mira para alli vieram os fundadores d' aquelIa colonia agricola, que á força de trabalho e perseverança conseguiu, com o lodo e moliço da ria, transformar uma grande parte do areal em terreno productivo. Foi crescendo a população, que já hoje conta uns 200 fogos, e o que fôra esteril areal pouco a pouco se transformou em fertil e

Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré

Alguns subsídios para a sua história Em 1888,  inicia-se a sementeira do penisco no pinhal velho, terminando, na área da atual Gafanha da Nazaré, em 1910. Somente em 1939 ultrapassou o sítio da capela de Nossa Senhora da Boa Hora, ficando a Mata da Gafanha posteriormente ligada à Mata de Mira. (MG) A Colónia Agrícola da Gafanha da Nazaré foi inaugurada numa segunda-feira, 8 de dezembro de 1958, Dia da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal. Contudo, o processo desenvolvido até àquela data foi demorado e complexo. Aliás, a sua existência legal data de 16 de novembro de 1936, decreto-lei 27 207. Os estudos do terreno foram iniciados pela Junta de Colonização Interna em 1937, onde se salientaram as «condições especiais de localização, vias de comunicação e características agrológicas», como se lê em “O Ilhavense”, que relata o dia festivo da inauguração. O projeto foi elaborado em 1942 e, após derrube da mata em 1947, começaram as obras no ano seguinte. Terraplanagens,

1.º Batizado

No livro dos assentos dos batizados realizados na Gafanha da Nazaré, obviamente depois da criação da paróquia, consta, como n.º 1, o nome de Maria, sem qualquer outra anotação no corpo da primeira página. Porém, na margem esquerda, debaixo do nome referido, tem a informação de que faleceu a 28-11-1910. Nada mais se sabe. O que se sabe e foi dado por adquirido é que o primeiro batizado, celebrado pelo nosso primeiro prior, Pe. João Ferreira Sardo, no dia 11 de setembro de 1910, foi Alexandrina Cordeiro. Admitimos que o nosso primeiro prior tomou posse como pároco no dia 10 de setembro de 1910, data que o Pe. João Vieira Rezende terá considerado como o da institucionalização da paróquia, criada por decreto do Bispo de Coimbra em 31 de agosto do referido ano. Diz assim o assento: «Na Capella da Cale da Villa, deste logar da Gafanha e freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, do mesmo logar servindo provisoriamente de Egreja parochial da freguesia de Nossa Senhora de Nazareth, concelho d’Ilh