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Gafanha da Nazaré: Para a história do Cortejo dos Reis

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Pouco se sabe das festas de Natal e Reis, que hoje suscitam tantas vivências entre nós. Curiosamente, ou talvez não, o Padre Resende nada diz sobre o Cortejo dos Reis. Mas a tradição garante que estes cortejos fazem parte da nossa maneira de viver esta quadra tão significativa.
Recorrendo ao testemunho dos mais velhos, vamos à cata do passado, com estórias que passam de pais para filhos. Até nós.
Diz-se então que na altura desta festa o povo costumava levar as suas ofertas ao Menino à então capela da Chave. Dos avós de Alexandrina Cordeiro, a primeira batizada na nossa paróquia, saíam uma mesa e cadeiras para à porta do templo compor o cenário para a representação de um auto de Natal ou dos Reis. Era costume de Ílhavo, como refere António Capão em estudo publicado na revista “Aveiro e o seu Distrito”, números 2 e 3, sobre “As Janeiras, as Pastoras e os Reis”. Nesse trabalho afirma, sem precisar datas, que «de cortejos de oferendas para a igreja ou capela, ouve-se falar pela primeira vez em Ílhavo, que parece ter primado com essas festas. Mas esse ritmo abrandou, Ílhavo deixou de ter os seus Reis, e em contrapartida essa zona sob a sua influência passou a organizá-los».

Como a Gafanha estava aqui, paredes meias com Ílhavo, é de presumir que houvesse festas que estiveram na matriz do nosso Cortejo dos Reis.
Leopoldo Oliveira, 83 anos, genro de Manuel Caçoilo da Rocha (Falecido em 23 de novembro de 1945, com 58 anos de idade), um abastado e influente comerciante da nossa terra, com estabelecimento perto da igreja onde se vendia de tudo, exceto vinhos, com exceção para a “ginjinha com ela” (o mata-bicho da época, bebido a correr antes de seguir para a jorna), conta-nos o envolvimento da família na festa dos Reis.
Depois de reforçar a ideia de que não havia efetivamente cortejo no verdadeiro sentido da palavra, refere que foi o sogro o dinamizador daquilo que hoje temos a nível dos Reis. Como coletor do “Amigo do Povo”, semanário da Diocese de Coimbra (a que pertencemos até 1938), colecionou o romance histórico, “Mártir do Gólgota” de Perez Escrich (1829-1897), que se publicou em folhetim naquele jornal de grande expansão na região, e não só.
Selecionou as cenas que considerava fundamentais, à semelhança do que muitos outros fizeram por outras regiões do país, e ensaiou os primeiros autos em sua casa, envolvendo a família. Mais tarde os ensaios passaram para um estabelecimento que existia frente à matriz, por falta de espaço na própria igreja.
O primeiro “anjo” da cena que se apresenta no início do cortejo, em Remelha, foi sua filha Aurélia, de 6 anos, em 1923 ou 1924. Os trajes a condizer com as figuras a apresentar foram confecionados pela esposa e filhas. Posteriormente, esses trajes passaram a ser utilizados, por aluguer, em data que não é possível precisar. Ainda hoje, os filhos de Leopoldo Oliveira sabem de cor os diversos papéis, participando, normalmente, no Cortejo.
Os trajes passaram a ser alugados a partir daí e por muitos anos para os cortejos das Gafanhas da Encarnação e Carmo e até para outras localidades. A família ainda preparava e alugava as roupas para os “anjinhos” das procissões e para as “primeiras comunhões”.
Leopoldo Oliveira regista que algumas músicas foram feitas e ensaiadas pelo Mestre Rocha, e que sua esposa e cunhadas, as chamadas Caçoilas, cantavam, como sempre cantaram também nas missas solenes e noutras, ensaiadas por referido Mestre, com acompanhamento ao órgão do Padre Redondo.

Fernando Martins

Comentários

Teuvo Vehkalahti disse…
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