terça-feira, 17 de maio de 2011

Gafanha em "Recordações de Aveiro"

Foto da Família Ribau, cedida pelo Ângelo Ribau



António Gomes da Rocha Madail escreveu na revista “Aveiro e o seu Distrito”, n.º 2 de 1966, um artigo com o título de “Impressões de Aveiro recolhidas em 1871».   Cita, em determinada altura, “Recordações de Aveiro”, de Guerra Leal, que aqui transcrevo:

(…) 
«No seguimento d'esta estrada ha uma ponte de um só arco, por baixo da qual atravessa o canal que vai a Ilhavo, Vista Alegre, Vagos, etc., e ha tambem a ponte denominada das Cambeias, proxima à Gafanha. 
É curiosa e de data pouco remota a historia d'esta povoação original, que occupa uma pequena peninsula. Era tudo areal quando das partes de Mira para alli vieram os fundadores d' aquelIa colonia agricola, que á força de trabalho e perseverança conseguiu, com o lodo e moliço da ria, transformar uma grande parte do areal em terreno productivo. Foi crescendo a população, que já hoje conta uns 200 fogos, e o que fôra esteril areal pouco a pouco se transformou em fertil e extensa campina, que fornece o mercado de Aveiro de muito milho, feijão, ervilha, batata, hortaliça, gallinhas, ovos, etc. 
Os anhos da Gafanha são muito apreciados, pelo sabor agradavel e especial da carne. 
Não ha alli arvores fructiferas nem vinhas, porque a camada de terra productiva, pela sua pequena profundidade, lhes não permite crescimento. 
São denominados gafanhões os habitantes da Gafanha, a seu typo physionomico denuncia feicão árabe, os homens são robustos e de boas fórmas, e as mulheres de mediana estatura, mas cheias e vigorosas. São de caracter expansivo e indole benevola. É raridade o casamento de um gafanhão, homem ou mulher, fora da colonia, que talvez por isso conserva immutavel a sua feição primitiva. Cada nova casa edificada é signal de que um novo casal se estabeleceu. Há alli duas capelIas, modestas, mas decentes, edificadas e consagradas ao culto, à custa da colonia. 
Em junho do anno passado vivia, e talvez viva ainda, a matriarcha d'aquelIa povoação. Chamavam-lhe a tia Joanna e parecIa que, embebecida no fumo do seu cachimbo, se deslembrava da conta do tempo abrangido pelos seus 90 janeiros. É a idade que nos disseram deveria ter.» 
(…)

10 comentários:

Barba azul disse...

Interessante, como de costume! E sempre gostei de imaginar processos de povoamento de novas terras, de criação de novas comunidades assentes numa economia própria e solidária, na transformação fundiária pelo melhoramento da fertilidade dos solos (tão diverso do que hoje normalmente acontece, em que a actividade agrícola mais frequentemente esteriliza solos dos que os enriquece).
Os Ribau da fotografia, serão ascendentes directos do Engº José Ribau Esteves, por acaso?
A. Sottomayor

Fernando Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Barba azul disse...

Muito obrigado pela informação. Fui condiscípulo do Engº José Ribau, em Vila Real, aquela fotografia despertou a minha curiosidade em saber se havia parentesco.
A propósito do que se descreve neste texto sobre o aproveitamento agrícola das areias das Gafanhas, deixo a curiosidade do facto de ter havido, em terrenos da minha família na Costa Nova, uma exploração hortícola ainda relativamente grande, tanto quanto sei pelo que me contaram, desenvolvida e explorada por gente vinda da Aguçadoura (Póvoa de Varzim). Já não é do meu tempo, claro, e na época a faixa de areia da Costa Nova era bastante mais larga, o que fazia com que a distância ao mar ainda permitisse a cultura. Ainda assim, relativamente às culturas nas Gafanhas ficava muito mais próximo do mar.

Fernando Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernando Martins disse...

Tanto quanto sei, há por estas bandas três ramos de Ribaus. A origem terá sido um catalão que nesta região se instalou. Depois, os Ribaus multiplicaram-se: uns deram industriais, outros geraram descendentes com cursos superiores e outros têm um pouco de tudo. José Ribau Esteves é o presidente da Câmara de Ílhavo (Eng. José Agostinho Ribau Esteves). Terá sido do grupo dos industriais, pois os seus antepassados estiveram ligados a empresas de bacalhau. Os da foto também tiveram, como ainda têm, muita gente formada...
FM

NOTA: Este comentário substitui o que cortei, por conter uma imprecisão.
FM

Lúcia Ribau disse...

Boa noite, Sou Lúcia Helena Ribau, Filha de António Caçoilo Ribau, meu avô era António Nunes Ribau e minha avó Maria de Jesus Caçoilo. Até quanto sei a mãe do Ribau Esteves é prima em 2º grau do meu pai. Fiquei curiosa em saber os nomes das pessoas da foto. Minha família (primos e tios) ainda vivem na Gafanha da Encarnação. obrigada desde já por partilhar a foto.

Susana disse...

Boa noite, a minha família materna vai toda a Ribau, o meu bisavô era conhecido como o ti Ribauzito. O Ribau Esteves chega a ser ainda da minha família mas não sei já em que grau. A minha família também é toda da Gafanha da Encarnação. Será que me poderiam dizer quem são as pessoas da foto? obrigada

Fernando Martins disse...

Pessoalmente conheço uma pessoa apaixonada por estes assuntos (cujo nome, como é óbvio, não poderei divulgar)que terá, decerto, respostas para as dúvidas que manifestaram. Penso que o melhor será ela escrever um texto sobre o assunto, mas presentemente não o poderá fazer por excesso de trabalho. Quando estiver mais livre, logo se verá. Contudo, admito que os vossos pais poderão dar-vos algumas pistas.

Fernando Martins

Lúcia Ribau disse...

Boa tarde,

Para as pessoas que tem facebook, há um grupo com o nome "Ribau e origens genealógicas da Gafanha".
Já existe alguns livros de algumas famílias e as suas origens.

Humberto Vieira disse...

Há alguns sobrenomes na Gafanha que apesar de na época existirem noutros locais, os sobrenomeados eram naturais da Gafanha, nomeadamente:
- Ribau, apareceu na Gafanha com Manuel Nunes Giraldo, nascido aqui, a 02 de Dezembro de 1769;
- Ramos, nasceu na Gafanha com os filhos do casal Manuel André e Maria Francisca, que tinham casado a 09 de Junho de 1748, ambos nascidos na Gafanha;
- Sardo, nasceram derivado às características físicas de António Ferreira, que nasceu na Gafanha, a 30 de Maio de 1758;
- Fidalgo, nasceu de um sobrinho de António Ferreira, o Sardo, o José Ferreira, filho de Joaquim André Ferreira;
- Os Figueiredo, Caleiro, Garrelhas e outros, descenderam de outros sobrenomes já existentes por cá.

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