domingo, 9 de setembro de 2012

Tecendo a vida umas coisitas - 307

PITADAS DE SAL – 37 



A ALIMENTAÇÃO DOS MARNOTOS E SEUS MOÇOS 

Caríssima/o: 

E haverá certa curiosidade em saber como se alimentariam os marnotos e os respetivos moços; contudo, os alimentos e a confeção não andariam longe dos hábitos e costumes da população em geral. Se não, veja-se algo do que está escrito:

«Findo este trabalho, o moço mais velho que era habilidoso a cozinhar, foi tratar da bacalhoada, enquanto eram ultimados outros serviços. 
Agora, enquanto o tabuleiro era amanhado, o pessoal aproveitava para almoçar. 
A comida era despejada do panelão, numa travessa grande, e todo o pessoal comia dessa travessa. Cada um pegava no seu garfo, partia um pedaço de boroa e toca a comer, que a manhã tinha sido de muito trabalho e tinha puxado pelo corpo… 
No final da refeição, aquele que não estivesse satisfeito, pegava num bocado do miolo da boroa que tivesse sobrado, e fazia migas no resto do caldo da bacalhoada. Era saboroso. Mas, azar! Não tínhamos trazido colheres. Só uma colher grande de pau, que serviu para mexer a comida enquanto era cozinhada, e para prová-la, para saber se estava bem temperada. Não faz mal. 
- Come um de cada vez e anda à roda, foi o alvitre! 
Assim fizemos, e não constou que alguém tenha adoecido!» [Ângelo Ribau Teixeira, em O Sonho]

«Uma trempe ou pedras convenientemente dispostas, que tanto eram usadas dentro como fora do palheiro, acolhiam os tachos onde, desejando-o, cozinhavam a refeição, ou a aqueciam no caso de a trazerem de casa. 
O mobiliário do exterior, sem arrebiques, era composto por mesa e bancos talhados com a enxó em tábuas de caixa de sabão; um banco do mesmo material, corria o comprimento do palheiro no lado mais abrigado do vento a que se encostava a mesa para tomar as refeições ao ar livre quando o estado do tempo o consentia.» p. 110 
«Não há uma gastronomia específica dos marnotos [mas] pela sua inclusão na simbólica botadela podem referir-se o bacalhau com batatas e hortaliça, habitualmente vagens, designação por que é conhecido o feijão verde, e a fritada de favas tão do agrado dos moços.» p. 126 
«…A mulher do marnoto não intervém na faina, mas, pelas 5-6 horas da manhã, [faz] a preparação diária do mata-bicho e da refeição que o marnoto diariamente transporta para a marinha. Na ementa predominam sopas grossas à base de carne de porco gorda, ou orelheira ou chouriço; também era frequente o peixe frito, toucinho frito, omeletas de chouriço e sempre pão, ou broa e fruta; para beber, água, muita água que também ia de casa…. A refeição era devidamente acondicionada e embrulhada em jornais e panos de lã para, pelo menos, «se manter morninha»… 
Dos moços ficaram reminiscências da confecção, na marinha, de fritadas de favas (fritavam tiras de toucinho e na gordura obtida fritavam favas, quantas vezes criadas na horta do malhadal) e as batatas (muitas) que coziam para acompanhamento de 1-2 sardinhas.» p. 261 [Énio Semedo, em Ecomuseu…, nas páginas citadas] 


Manuel 

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