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ÍLHAVO NÃO É SÓ MAR...

Um texto de Manuel Cardoso Ferreira 

Mulheres da Gafanha (Do livro "As mulheres do meu país", de Maria Lamas)

Em Ílhavo existe um bom Museu Marítimo, com o seu polo Navio Museu Santo André. Para o ciclo "pesca do bacalhau" estar completo, falta a museulização de uma seca de bacalhau e a construção naval, actividades que tiveram grande desenvolvimento na Gafanha da Nazaré.
No entanto, em termos históricos e patrimoniais, o concelho de Ílhavo não pode limitar a sua oferta unicamente à temática marítima, ainda que, neste sector, seria importante a criação de um museu para valorizar os achados arqueológicos da ria, museu que ficaria muito bem instalado no Forte da Barra, um edifício militar que poderá ter origem no século XV.
Por exemplo, na Casa Gafanhoa deveria haver uma área que contemplasse a "conquista" dos areais das Gafanha, desde os tempos em que eram praticamente deserto até à pujança agrícola dos meados do século XX, incluindo a "participação" da apanha do moliço para a concretização dessa evolução, e ainda a florestação da actual mata nacional que fixou as dunas.
Em Vale de Ílhavo, a panificação e a moagem (onde houve moinhos de água e azenhas desde os primórdios da nacionalidade) mereciam um centro interpretativo que preservasse e valorizasse o património associado a essas duas actividades.
Um pouco por todo o concelho houve bastante agricultura, actividade que está um pouco representada na sala museu do Rancho da Casa do Povo de Ílhavo, situada na antiga escola primária da Gafanha da Boavista, e que também está presente na Casa Gafanhoa.
A História de Ílhavo é bastante antiga, teve inúmeros intervenientes (um, até foi primeiro-ministro) e com locais relevantes (igrejas e outros templos, casas nobres, forte da Barra, Palheiro de José Estevão, ruas e lugares: Ermida, Alqueidão, Vila de Milho, Sá...). Essa história e o espólio a ela ligada, incluindo o documental, merecem ser bastante valorizados de modo a dar a conhecer às gerações vindouras a relevância de Ílhavo em tempos idos.
Artistas também houve (e continua a haver) em Ílhavo. As exposições permanentes de Cândido Teles e João Carlos Celestino Gomes na Casa da Cultura de Ílhavo, e as cerâmicas artísticas no Museu da Vista Alegre provam isso, mas deixam antever o potencial que existe se a oferta for alargada também a outros artistas.
A arqueologia industrial também já se faz sentir no concelho, não havendo já memória dos antigos moinhos que existiram nas Gafanha, da construção artesanal naval de embarcações da ria (com as famosas bicicletas aquáticas dos irmãos Conde), das olarias, da fábrica de vidros, das carpintarias e serralharias de outrora, das antigas padarias...

NOTA: Transcrevi, com a devida vénia,  este oportuno texto do jornalista Manuel Cardoso Ferreira, publicado no Facebook. 

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